Curso Online de Metodista Wesleyana - A Herança de Nossa Herança

A Herança da Nossa Herança

Um Esboço Histórico-Teológico

Bispo Anderson Caleb Soares de Almeida

Herança é o que recebemos de nossos pais, ou dos que vieram antes de nós. É um bem que nos é transmitido. Todos somos herdeiros. Nossos corpos herdam informações no DNA, a hereditariedade é inegável em termos físicos. Nossa alma, nossa psique herdam padrões de comportamento, traços da personalidade, tendências psíquicas e culturais de nossos antepassados.

Herança

Em Adão, todos nós herdamos a morte e a condenação, mas, com Cristo, o segundo Adão, somos co-herdeiros das promessas e da vida. Alunos herdam de seus professores, filhos de seus pais, ovelhas de pastores, a igreja de hoje da igreja de ontem, e a teologia de hoje da teologia de ontem. Em certo sentido, somos o que herdamos das gerações passadas. Até mesmo nossa herança é herdeira de outra heranças.

Deus é a autoridade última, e a Bíblia a autoridade primária da Igreja. Todavia, a tradição, a herança e o legado histórico são fontes secundarias indispensáveis para a compreensão da nossa fé. Não creio no mito da pura objetividade bíblica. Qualquer declaração ou afirmação doutrinaria, por mais bíblica que se autodenomine, está sob influencia de alguma tradição histórico-teológica.

Deus a Bíblia e a Tradição

Nenhuma tradição teológica é perfeitamente, completamente ou puramente bíblica. Ser bíblico é uma jornada, uma agenda, e não um lugar onde já se chegou. Por isso, toda tradição e herança precisam ser revisitadas, repensadas e julgadas pelas Escrituras. Nós, wesleyanos, temos a Escrituras como nossa fonte primordial e autoridade primaria de nossa teologia. Wesley afirmou no prefacio de seus sermões: “Eu sou um “homo unius libri”. Ou seja, “um homem de um só livro”. Neste capitulo inicial, entretanto, nosso foco é a tradição, a herança que gerou nossa herança.

A tradição – e não o tradicionalismo – tem lugar relevante no pensamento wesleyano. Deve-se prestar atenção nos séculos de reflexão que nos antecederam. Todavia, não se pode dar à tradição o lugar que a igreja católica romana lhe deu. Como se sabe, nos Concílios de Trento (1545-1563) e Vaticano II (1962-1965) a igreja romana optou por duas fontes de autoridade:

O Lugar da Tradição

Escrituras e Tradição, ambas no mesmo nível. Nós, wesleyanos honramos a tradição, valorizamos a razão e percebemos a importância da experiência, entretanto, a autoridade primaria para nós é a Bíblia. A tradição, os credos, a confissão possuem normatividade, porem, derivada, mas a Bíblia possui normatividade originaria.

Não se pretende aqui fazer uma suma historia ou pré-histórica dos inicios do metodismo wesleyano. Isso exigiria alguns volumes e um rio de tinta. Todavia, se faz necessário um olhar para trás para melhor se discernir o presente. A historia não pode ser desprezada. Alguém disse, com muita coerência, que “um povo que não conhece sua historia está condenado a repetir os mesmos erros”.

A Herança da Nossa Herança

Ao pensar em nossa herança e tradição, percebemos que as mesmas foram influenciadas e, consequentemente, beberam em outras tradições e heranças. Por isso chamamos nosso capitulo de “herança da nossa herança”.
A proposta agora é investigar e dissecar esse legado. Wesley e o movimento wesleyano histórico receberam influencia de outras tradições teológicas, afinal, antes do século XVIII, já havia uma profícua reflexão teológica na Europa. Sendo assim, identifiquemos algumas influencias que moldaram nossa herança e o pensamento wesleyano primitivo:

John Wesley afirmou: “Que nenhum homem esbraveje contra o arminianismo, a menos que saiba o que ele significa”!. Os irmãos Wesley seguiram de perto os conceitos do arminianismo, que muito influenciaram a Inglaterra. Segundo Olson,

A Herança Arminiana

Conceitos como o livre-arbítrio, ou seja, a capacidade de responder a graça de Deus, aceitando-a ou recusando-a, sendo assim um ser responsável; a expiação ilimitada, ou seja, Cristo morreu por todos, e não apenas pelos eleitos; a graça proveniente que Deus dá a todos e os capacita a aceitarem a graça salvadora se assim decidirem; a graça resistível, ou seja, a possibilidade de cair da graça, vieram do arminianismo.